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Lenira Carvalho

Lenira Carvalho nasceu em Porto Calvo, interior de Alagoas, em 1932. Se mudou para Recife aos catorze anos de idade, para “trabalhar em casa de família”, expressão usada até hoje para se referir ao trabalho doméstico remunerado, ainda que à época esse trabalho muitas vezes fosse sem remuneração. Filha de uma mulher negra, empregada doméstica e mãe solteira, Lenira cresceu na casa grande de um engenho e se mudou para o Recife para trabalhar na casa de seu padrinho, filho do dono do engenho onde vivia com a mãe. Nessa casa, passou dezesseis anos trabalhando como babá e depois como copeira, período de sua vida marcado pela solidão, angústia e revolta com as situações de opressão vivenciadas no ambiente de trabalho.

 

Inicia a sua atuação política na Juventude Operária Católica (JOC), onde encontrou referências de luta que a ajudaram a dar nome e significado às questões que a afligiam. Se engajou na luta por direitos trabalhistas da categoria ainda na década de 1960, quando o trabalho doméstico não tinha qualquer tipo de regulação, apesar da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) datar de 1943. Nos anos 1970, fundou com outras trabalhadoras a Associação das Trabalhadoras Domésticas do Recife, que se tornaria o Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Recife, após o reconhecimento das domésticas como categoria profissional pela Constituição de 1988.

Durante os anos da ditadura empresarial-militar e no processo de redemocratização do país, atuou na JOC, junto a outras lideranças populares ligadas à Teologia da Libertação, que se fortaleceu no período em que Dom Helder Câmara foi arcebispo do Recife e Olinda. Representou as trabalhadoras domésticas no espaço de participação popular na Constituinte, discursando em plenário e entregando a carta com as reivindicações da categoria. Na década de 1980, articulou-se com grupos de mulheres e feministas no Recife, sendo uma das fundadoras do Fórum de Mulheres de Pernambuco, movimento feminista antipatriarcal, antirracista e anticapitalista que segue tendo uma forte atuação no estado. Lenira Carvalho faleceu no dia 3 de agosto de 2021, deixando um legado muito importante para as lutas das trabalhadoras domésticas e para a construção da democracia no país.

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